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O porco d’água

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Quando eu entrava em um evento, em Marabá, um senhor de já avançada idade levantou e estendeu-me a mão.

Estendi a mão fitando-o, sem conhecer. O dono das mãos grossas e rugosas soltou uma voz, também, rugosa:

- Sou José Vasconcelos, fui muito amigo do seu pai, o Ismael, e do Lourival Macias.

Lourival Macias foi um dos maiores amigos do meu pai, e era na casa dele que eu passava parte das férias de julho, na puberdade.

A apresentação do Vasconcelos imediatamente levou-me ao passado e segurei a emoção, perguntando-lhe de onde conhecia meu pai.

Ele respondeu que fizeram amizade ainda no tempo que meu pai "subia e descia" o rio. Eu iria entabular a conversa quando fui interrompido por comitivas que chegavam e me tangiam à frente.

A primeira profissão do meu pai, ainda jovem, foi a de "porco d'água": a pessoa que pulava na cachoeira com um cabo de aço na mão, que deveria ser enrolado em uma determinada pedra ou árvore, para que dois outros homens rodassem o molinete na proa da embarcação, para iça-la rio acima, rompendo as corredeiras da maior cachoeira do Rio Tocantins, a Capitariquara.

Quando eu comecei a fazer este trajeto com meu pai, de Tucuruí para Marabá, ele, de porco d'água, já se fizera piloto.

Especificamente a meu pai, mas, em memória a todos os anônimos e intrépidos porcos d'água que o Rio Tocantins, e nem ninguém, jamais verá de novo, fiz há mais de vinte anos, logo após a morte do meu pai, uma poesia que hoje resolvi postar.

Se você gosta de poesias, leia-a aqui.

Comentários

  1. Olá amigo Parcifal,

    Ainda não sou um profissional das letras como você, mas tento não deixar de registrar minhas memórias para não se perderam com o tempo.

    Li seu post "O Porco D'água" e resolvi te enviar esta minha poesia,pois qualquer semelhança será mera coincidência.

    Me envie seu email para eu te enviar outras pérolas de nossas felizes e alegres viagens de nossa infância.

    O Piloto

    O rio está cheio.
    O barco ancorado ao cais.
    Amarrado por cordas e arretinidas.
    Esperando a hora da partida.
    Seu porão é grande, mas logo estará cheio de castanhas.
    Que de hectolitro em hectolitro são medidos sobre o olhar atento do marca marcador.
    Tudo pronto, porcos d’água a bordo, uns soltam o barco outros recolhem as pranchas.
    O barco carregado parece deslizar suavemente.
    Sob as ordens de seu principal condutor: o piloto.
    A viagem é longa e o Rio Tocantins majestoso e traiçoeiro esconde:
    Pedras, banco de areia e cachoeiras.
    O piloto não pode errar.
    Capitariquara a vista, começa a hora de aflição.
    O piloto ordena: marinheiros e passageiros procurem seus lugares.
    Porco d’água baixe e pregue as sanefras, mestre de proa amarre os tambores no molinete.
    O piloto faz soar uma campainha, que é seu principal instrumento de comunicação entre ele e o maquinista.
    O maquinista que por sua vez responde com seguidos toques de retinidos, avisando que está atento aos seus comandos.
    Começa a operação descida.
    Com seus braços fortes o mestre piloto segura firme a cana de leme, seu rosto se franze, seus músculos parecem querer pular.
    Com um toque pede que diminua a aceleração do motor, mas pouco adianta.
    O rio corre muito, e ele tem que ser preciso.
    Em sua frente estouram rebojos, rodeados de pedras mortas.
    O barco pesado parece gemer.
    Em seguida vem a volta das três pedras.
    E logo também vem o corte do engenho.
    De tão pesado parecia que o barco ia afundar, mas logo se emerge.
    É a famosa gangorra das cachoeiras.
    O mestre piloto atento parecia não piscar.
    Era uma luta bonita, onde o homem só tinha que acreditar nele mesmo fazendo o uso de todos os seus conhecimentos: técnica e força.
    Naquela época não existia a avançada tecnologia de comando e o mestre piloto não podia errar, pois qualquer erro era fatal e todos os danos atribuídos a ele o piloto.
    Muitos já se foram, os que ainda sobrevivem foram esquecidos por nossa história, mas eu ainda tenho em minhas lembranças.
    Posso cantar que meus heróis não morreram de overdose.
    Viva mestre Dadá!
    Viva mestre Ramires!
    Viva mestre Felipe Bala Doida!
    Viva mestre Boca Preta!
    E viva mestre Munguba!

    Ivo Simões

    ResponderExcluir
  2. André Magnago (Andrezão)07/07/2010, 10:28

    Nobre deputado.. lendo esse seu post, tambem me veio a cabeça... lembranças do nosso estimado irmão, Lourival Macias, pai de Benedito Macias.. carinhosamente chamado de Tio Bené.
    Foi quando iniciei na Ordem Demolay em Marabá, que tive a oportunidade de conhecer essas duas figuras maravilhosas.. que são esses dois Macias..

    Tio Bené sempre contava as historias em que o seu Pai Lourival fez quando ainda moço em Marabá, uma delas que me marcou foi saber que Lourival Brigou com a Vale do rio Doce.. sobre a ponte Rodo-ferroviaria, que pela Vale seria apenas uma ponte ferroviaria, foi emcabeçado por lourival o movmento de pressão contra a Vale pra que fosse feito a Ponte rodo-ferroviaria..

    Quando eu cheguei a ser Mestre Conselheiro Estadual da Ordem Demolay, é o titulo dado a Liderança Maxima do estado. tive o prazer de fundar em Marabá o Convento dos Nobres Cavaleiros Lourival Macias. em homenagem a sua luta e historia de vida.

    ResponderExcluir
  3. Olá André,

    O Sr. Lourival Macias foi um dos maiores amigos do meu pai. O Bené é um amigo que eu sempre visito quando vou à Marabá.
    Ótimo saber que você tem estas ligações com a história.

    Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  4. PARSIFAL, esta mensagem vai para o Sr. Ivo Simões que postou a poesia O Piloto acima: Gostaria de falar com voce. Meu email: wilson@mconline.com.br

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